A sinfonia noturna dos sapos e os sonetos dedicados às flores do mal.

Aquele foi o meu último soneto sobre Violet, uma cantata triste na beira da lagoa, dois estranhos covardes aparando a chuva em um sombreiro minúsculo enquanto a cantata parecia ecoar para além da sinfonia dos sapos, dois estranhos observando a última gota de sentimentalismo escorrer. Flores pronunciadas milhões de vezes como Charles Baudelaire  reanimando flores, escrevendo poesias para as flores do mal, como se as Beladonas não fossem angelicais, flores como se todas as flores precisassem da verbalização para exalarem aromas particulares, flores como se até mesmo as flores de plástico fossem eternas, pensei, talvez assim seja o amor, como se a simples pronúncia o tornasse real.

Amor como se todo amor fosse extravagante, amor como se nenhum amor fosse amor em silêncio, amor milhões de vezes como se o amor precisasse da verbalização, como se todas as pessoas soubessem amar em silêncio, como se fosse inadequado amar em silêncio, e eu amo, nas poesias, nos melismas, no caos, no elementar… O amor mil vezes  anunciado, veiculado, nocivo, o perigo, idéia de quem conta anedotas, esse amor é tão perigoso quanto as flores do mal, foi você quem inventou o perigo, o medo de amar, o medo da chuva mas antes mesmo de me ferir o amor foi lindo, foi lindo nas estradas de barro, nas casas de taipa, nas flores de plástico e até mesmo naquelas que foram colhidas no fundo de casa, as folhas viçosas o cheiro acentuado de alguma coisa que acabou de ser roubada, elas estão no vaso desde o ano passado, abril para ser exato, esse foi o último alinhamento que enxerguei à olho nú,  parado, lunático apontando a direção, me movendo para onde ela apontava estática me observando ser quebrado em vários pedaços.

O meu delírio de fato parece uma brincadeira infantil, uma criança interiorana deslumbrada com a fumaça dos carros, o cheiro desagradável, os olhares, o oásis no meio das construções iluminadas, aquele foi o meu lar, a poesia estava lá, a sinfonia noturna estava lá, os pássaros noturnos cantavam, mas você criou o medo de amar, o medo da chuva, e eu jurei por um tempo que era de fato inadequado amar em silêncio, o meu amor é silencioso  como um sol torto desenhado no canto da prova de matemática no jardim de infância, há quem encontre idéias subliminares, quintas intenções, mas é amor exagerado, expressivo, tranquilo, é amor em totalidade, não tem mistério, elementar como as flores do mal, como o cheiro das flores de plástico, como dois estranhos aparando a chuva com um sombreiro minúsculo observando a última gota de sentimentalismo escorrer.

Autor: E G Viana

Minhas contradições são minhas melhores amigas.

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